Há pouco mais de um mês em vigor, o open investment tem chacoalhado o tabuleiro da disputa entre as instituições financeiras. A quarta etapa do open finance era uma das mais aguardadas pois permite, por meio do agregador financeiro – processo digitalizado criado pelo Banco Central (BC) – colocar na mesma mesa informações transacionais de clientes de diferentes casas de investimentos, desde que eles deem o consentimento para essa abertura. Bancos, gestoras e plataformas de investimentos estão de olho em mais de R$ 8 trilhões que circulam só na indústria de fundos, sem contar ativos desvinculados negociados diretamente como ações, ETFs, BDRs, debêntures, CRIs, CRAs, CDBs e outros.
A contar do aval já dado pelo consumidor desde o início do open finance – e que terá que ser revalidado no open investment -, são 41 milhões de consentimentos ativos, sendo 27 milhões de usuários únicos em todo país, segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Essa agenda é prioritária para instituições financeiras e consumirá boa parte dos R$ 45,1 bilhões de investimentos em tecnologia previstos para 2023. “Os bancos irão gerar novos modelos de negócios e investirão para disponibilizar benefícios aos clientes. O open investment será mais uma base de avaliação de crédito, por exemplo, além dos processos atuais. Aí vai do apetite de risco de cada instituição financeira”, afirma Carolina Sansão, diretora adjunta de inovação, tecnologia e cibersegurança da Febraban.
Para o BTG Pactual, até pela natureza do banco de investimentos, as fases anteriores do open finance são importantes, mas a atual é a que mais interessa e causa expectativas – e trabalha para avançar na agenda de banking. “O open investment e o open insurance são os dois principais desdobramentos do open banking, para nós. Tanto que fizemos a aquisição do Kinvo, em 2021, que era um dos principais consolidadores de portfólio do mercado”, conta Marcelo Flora, sócio e responsável pelas plataformas digitais do BTG Pactual. A aquisição faz parte da estratégia de expansão do banco no segmento de varejo de investimentos.
Hoje, o estoque de recursos de terceiros administrado pelo BTG está em R$ 1,5 trilhão, um aumento de 25% nos 12 meses encerrados em setembro. “A expectativa é que isso nos ajude porque temos oferta de produtos de investimentos diferenciada, como fundos com taxa zero, que investem no Tesouro Selic, com aporte inicial de R$ 100”, conta Flora.
Os bancos avaliam que o que vai diferenciar as casas são as taxas, a rentabilidade e a qualidade de serviços e produtos com custos menores. “Se conseguirmos mostrar isso para os clientes, não temos dúvida de que vamos crescer bastante. O desafio é a educação financeira”, diz Flora.
O Bradesco também vem fazendo movimentos de aquisições desde 2022, com a compra do consolidador Smart Brain e, hoje, tem mais de 400 mil clientes investidores que utilizam o seu consolidador, o Invest+. “Nós nos antecipamos ao open investment para que os clientes aderissem voluntariamente e já conseguissem fazer a consolidação dos recursos em diversas instituições. No início, colocamos ativos não financeiros, como obras de arte, carros, barcos, para despertar o seu interesse”, observa Ademir Correa, diretor de investimentos do Bradesco.
O banco também aposta na expansão de sua equipe de especialistas de investimentos para atender mais amplamente o varejo. Eram pouco mais de 300 profissionais em 2019, hoje já são 1.400 e o número chegará a 2.000 em janeiro de 2024. “Hoje tenho 120 pessoas em sala de aula para treinamento. Eles passam dois meses em formação na nossa academia, pois além do CPA 20 [certificação para profissionais do mercado financeiro], o Bradesco exige o CEA [certificação de especialistas em investimentos]”, afirma Correa.
Com a pretensão de crescer em um terço a sua base de consentimentos para 2024, o Santander também planeja elevar de 1.400 para 2.000 seu quadro de profissionais de investimentos no primeiro trimestre do próximo ano. Na avaliação do banco, a fase quatro do open finance é de total mudança e maior percepção de valor do cliente. “A expectativa é altíssima porque permite entregar um nível de assessoria ainda maior. Desde que começou a fase quatro, aumentou em 24% por dia o volume de dados recebidos. Temos 3,4 milhões de consentimentos ativos, sendo que 15% vieram da fase quatro”, afirma Joice Almeida, head de open finance do Santander Brasil.
“Já começamos as primeiras ações, em que alertamos o cliente quando ele tem saldo relevante parado na conta. Gerenciamos ainda o vencimento de títulos e avisamos antes do vencimento sobre as alternativas com condições competitivas”, diz Almeida. O Santander já usa as informações do open investment para a compra de crédito do mercado e garante que o grau de conversão tem sido alto.
Em julho deste ano foi a vez do Banco do Brasil lançar pacotes de soluções digitais. O BB aposta que na nova arena de dados a assessoria financeira vai se tornar cada vez mais relevante para os clientes, pois todos os grandes players já trabalham com plataformas abertas de investimentos e com títulos seus e de outras casas.
“O acesso a produtos tende a ser um diferencial menor, mas a assessoria e a proximidade é que serão determinantes nessa experiência, tanto por meio de especialistas quanto de soluções digitais”, aponta Eduardo Villela, gerente executivo de captação e investimentos do BB. “Lançamos uma nova versão do app de investimentos, com um canal dedicado ao investidor. Temos dois agregadores: um é o oficial do open finance e o outro é uma solução que reproduz a carteira B3, com dinâmica parecida com o open finance, mas com os ativos negociados na bolsa”, conta.
Fonte: Valor
Por: Roseli Loturco