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Bancos brasileiros lideram volume de M&A e veem tração no 2º semestre

Negociações perderam ritmo no fim do ano com mudança de juros e cenário americano

Bruno Amaral, sócio do BTG: mais de US$ 13 bilhões em M&As — Foto: Divulgação

No terceiro ano consecutivo de queda de receitas dos bancos de investimento no Brasil, os bancos brasileiros têm abocanhado uma fatia maior do bolo – o que tem sido comum em cenários de maior volatilidade e dinheiro caro, quando o relacionamento com as instituições credoras pesam mais, há mais emissão de dívida local e as aquisições e fusões também se tornaram mais locais, com menor volume cross-border.

No volume geral, lideraram Itaú BBA, BTG Pactual e Bradesco BBI. No recorte de M&A, o mesmo trio fez o maior volume, mas em outra ordem: BTG, BBA e BBI. A categoria costuma responder por ao menos metade das receitas totais, mas no ano passado caiu para 40% de representatividade. Isso porque as receitas diminuíram 25%, mesmo com um salto de 33% no volume de transações de M&As, que somaram US$ 51,2 bilhões, totalizando 815 operações, segundo a consultoria Dealogic. Os dados incluem as transações proprietárias realizadas pelas instituições financeiras.

O BTG assessorou 63 operações de M&As, que somaram US$ 13,4 bilhões, praticamente o dobro do volume de 2023. “O Brasil representa 50% das transações de M&As da América Latina, que foram realizadas em diferentes setores como infraestrutura, saneamento, óleo e gás, energia e imobiliário”, diz Bruno Amaral, sócio do BTG à frente de M&A.

O banco participou da privatização da Sabesp, que envolveu a entrada da Equatorial como investidor de referência, a venda da Wilson Sons para a MSC, a criação da joint venture Ímpar entre a Dasa e Amil e a venda da participação da Brookfield nos shoppings Higienópolis e Paulista.

Para este ano, Amaral acredita que as transações de M&A devem ganhar mais tração no segundo semestre, uma vez que a incerteza sobre a queda da taxa de juros nos EUA e as eleições americanas no fim de 2024, além da preocupação com a deterioração do quadro fiscal no Brasil, acabaram impactando o apetite dos investidores e fizeram as negociações perderem velocidade.

No ranking da Dealogic, o BBI saiu da 10ª posição em 2023 para o terceiro lugar no ano passado, tendo assessorado 43 operações que somaram US$ 10,4 bilhões. “Nesses anos de incerteza, com os juros mais altos, a boa execução faz a diferença nessas transações”, diz André Moor, chefe do banco de investimento do Bradesco. O banco também participou da privatização da Sabesp, da venda de participação dos shoppings da Brookfield, e assessorou a reorganização societária da Simpar, que combinou os negócios de concessionárias do grupo que resultou na criação da Automob.

Em 2023, apenas o BTG representou os bancos brasileiros entre as cinco primeiras posições no ranking. Naquele período, os estrangeiros foram impulsionados por duas operações grandes feitas no exterior: a venda de participação da Vale Base Metals para uma joint venture saudita, e a venda da Aesop pela Natura. “O ano de 2023 foi uma exceção e voltamos ao normal, em que os bancos brasileiros costumam ter um market share importante nas operações de M&As no Brasil”, diz Danilo Borges, chefe de M&A do Bradesco BBI.

O responsável pelo banco de investimento global do Itaú BBA, Roderick Greenlees, acredita que grande parte dos negócios neste ano deve acontecer entre empresas e estratégicos locais, com os leilões de saneamento e rodovias podendo impulsionar as transações em infraestrutura. Com os juros altos no Brasil, Greenlees acredita que as fusões entre companhias do mesmo setor para reduzir a alavancagem financeira devem continuar, bem como transações envolvendo troca de ações entre empresas abertas que estão com valuation descontado.

Danilo Borges, head de M&A do Bradesco BBI: bancos locais tem market share relevante — Foto: Divulgação

O banco assessorou 43 operações que totalizaram US$ 12,6 bilhões, aumento de 114% em relação a 2023 – entre elas, a fusão entre Petz e Cobasi, 3R e Enauta, Soma e Arezzo, além da compra da AES Brasil pela Auren. Entre os setores da bolsa em que pode haver consolidação os bancos citam os de educação, de provedores de serviços de internet (ISPs, na sigla em inglês) varejo e óleo e gás.

Vitru contratou os bancos UBS BB e Itaú BBA para encontrar um comprador ou um potencial sócio para potencial fusão. Já a Cruzeiro do Sul Educacional contratou o BTG Pactual, enquanto a Yduqs está sendo assessorada pelo Morgan Stanley. Já em provedores de internet, a Desktop tem buscado um sócio, enquanto a Alloha Fibra contratou o UBS BB e diz que é para aquisições, não venda, enquanto a Vero, que se uniu com a Americanet, está sendo assessorada pelo Itaú BBA para avaliar potenciais propostas de novos M&As.

O setor de tecnologia também deve estar aquecido, embora o tamanho dessas operações seja menor. A Stone, por exemplo, negocia a venda da Linx, que pode atrair investidor estrangeiro. “Mas, em geral, o investidor estrangeiro está olhando menos o Brasil e está alocando mais capital nos Estados Unidos”, diz Moor, ressaltando que setores como infraestrutura, tecnologia e saneamento podem ser exceção e atrair fundos de pensão internacionais.

O corte de impostos para as empresas pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos, contudo, pode dar um impulso para as companhias americanas olharem operações em outras regiões como o Brasil, avalia Amaral, citando óleo e gás, energia, infraestrutura, papel e celulose e agronegócio.

Esses setores, juntamente com mineração, entraram no no radar de investidores do Oriente Médio, principalmente da Arábia Saudita – eles têm olhado muita coisa e feito mais barulho sobre seu interesse, mas transações efetivamente ainda não mostraram volume. “Esses investidores vieram para ficar, mas o quão rápido isso vai acontecer é que é a dúvida”, diz Amaral.

Fonte: Pipeline
Por: Silvia Rosa

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