A Deloitte, uma das chamadas “quatro grandes” da auditoria mundial, lançou a maior remodelação de suas operações em dez anos para tentar cortar custos e reduzir sua complexidade organizacional diante da previsão de desaceleração do mercado.
De acordo com o plano, as principais unidades operacionais da Deloitte passariam a estar divididas em quatro — auditoria e garantia; estratégia, risco e transações; tecnologia e transformação; e impostos e jurídica —, das atuais cinco, que a empresa possui desde 2014.
A reorganização reduzirá os custos ao longo de toda a firma, disse uma fonte a par do plano, embora ressaltando que não foi estabelecido um valor para as economias.
O executivo-chefe mundial da Deloitte, Joe Ucuzoglu, encabeça a iniciativa da reforma, que levará um ano para ser levada a cabo nos mais de 150 países em que a empresa opera.
Em um e-mail enviado aos sócios da Deloitte nesta segunda-feira, Ucuzoglu disse que o plano reduziria a “complexidade” da empresa e “liberaria” um número maior deles para trabalhar com os clientes, em vez de gerenciar internamente a equipe. A Deloitte emprega cerca de 455 mil pessoas no mundo. As receitas mundiais da Deloitte aumentaram 15%, para US$ 65 bilhões, no ano fiscal passado, consolidando sua posição como a maior das “quatro grandes”.
No entanto, após vários anos de forte crescimento, Deloitte, EY, PwC e KPMG preparam-se para 12 meses complicados, uma vez que o cenário econômico ruim em alguns de seus mercados-chave vem levando muitas empresas a cortar custos. O mercado de consultoria do Reino Unido não crescerá neste ano pela primeira vez desde 2020, segundo um novo relatório, que inclui contribuições das consultorias.
A iniciativa de Ucuzoglu ocorre depois de ele ter rejeitado em 2023 a possibilidade de separar os negócios de auditoria e consultoria da Deloitte e ter criticado publicamente a lógica do plano. A concorrente EY passou mais de um ano tentando realizar um desmembramento da empresa, antes de abandonar a ideia em abril de 2023.
Em contraste com as multinacionais típicas, as quatro grandes são administradas como uma rede internacional de parcerias, conectadas por meio de uma entidade global que define a estratégia. Esse órgão global é financiado por comissões pagas pelas parceiras nacionais.
A complexidade da estrutura pode tornar a reorganização uma tarefa cheia de dificuldades, uma vez que os sócios competem por influência. A reorganização foi “um tema bastante conflitivo internamente”, disse um antigo sócio da Deloitte.
Como parte das mudanças, os negócios de consultoria da Deloitte — que assessoram empresas em quase tudo, desde tecnologia até transações de fusões e aquisições e incluem também sua unidade tributária e jurídica —, que antes estavam divididos em quatro unidades, agora passarão a estar em três. O braço de auditoria e garantia permanecerá como uma unidade independente.
As divisões de consultoria, consultoria financeira e consultoria de risco da Deloitte serão incorporadas a duas unidades de negócios recém-criadas: estratégia, risco e transações; e tecnologia e transformação. A primeira abrigará os serviços de assessoria a fusões e aquisições da Deloitte, que passaram por dificuldades diante da falta de transações.
A unidade de tecnologia e transformação reunirá seus serviços de “transformação digital”, o que inclui engenharia, inteligência artificial, dados e cibersegurança, de acordo com o e-mail enviado aos sócios, do qual o “Financial Times” teve acesso a uma cópia.
Para tentar eliminar a compartimentalização, alguns funcionários serão transferidos para um braço expandido de auditoria e garantia, incluindo aqueles que trabalham em questões ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).
A área jurídica e de impostos permanecerá como uma unidade de negócios independente dentro da nova estrutura, uma vez que a Deloitte tenta tirar benefícios da decisão de manter seus negócios de auditoria e consultoria juntos.
O plano de separação da EY fracassou porque seus líderes não conseguiram chegar a um consenso sobre como a área tributária deveria ser dividida entre as duas metades do negócio.
A PwC dividiu a área tributária entre suas divisões de consultoria e garantia nos Estados Unidos.
“Embora alguns outros no mercado estejam tentando separar essa função”, escreveu Ucuzoglu aos sócios, “acreditamos que nosso conjunto totalmente integrado de capacidades tributárias e jurídicas é uma fonte significativa de força e diferenciação e está alinhado às necessidades de nossos clientes”.
A nova estrutura deve entrar em vigor até junho de 2025, com as firmas nacionais integrantes da Deloitte talvez começando a usá-la já em junho, de acordo com o e-mail enviado aos sócios.
A Deloitte não quis comentar as informações.
Fonte: Valor
Por: Simon Foy e Stephen Foley, Em Financial Times