O fundo soberano de Cingapura GIC acaba de comprar uma fatia minoritária da farmacêutica Cimed, revelou a companhia com exclusividade ao Pipeline. A família Marques segue como controladora e administradora do negócio. A transação foi apenas primária, ou seja, colocando dinheiro no caixa da companhia para crescimento.
O valor do negócio não foi revelado, mas o CEO João Adibe Marques garante que foi a maior transação de private equity no setor de saúde no Brasil nos últimos 10 anos. “O J.P. Morgan me mostrou a lista, foi o maior cheque”, conta Marques ao Pipeline, citando o assessor financeiro da transação. O assessor jurídico foi o escritório Spinelli Advogados.
O momento do aporte chama atenção, já que os investidores, tanto nacionais quanto estrangeiros, andam mais avessos ao risco-Brasil. “Quando deu aquela piorada de cenário, em outubro, alguns investidores e até a família pensou que não seria o momento. Mas a verdade é que na Cimed a gente sempre fez o momento, não dá para esperar conjuntura”, diz Marques.
Diferentemente de outras transações recentes de M&A, a motivação da Cimed para vender uma fatia não está em endividamento – a alavancagem da companhia tem se mantido estável em 1x Ebitda. O capital é para manter o crescimento e antecipar algumas metas da companhia.
“O GIC procurava uma empresa de crescimento no setor de saúde e a gente cresce o dobro do mercado há cinco anos”, diz o CEO e maior acionista. “Acreditamos no Brasil e o nosso sócio também. Essa transação acende uma chama, acho que pode dar um ânimo em mais empreendedores.”
Executivos do fundo soberano, tanto da matriz quanto do escritório em São Paulo, fizeram um trabalho de campo com Marques nos últimos meses, visitando farmácias e entendendo o modelo de negócio da companhia – farmacêutica que, além da vertical de medicamentos, tem uma vertical de consumo e faz também distribuição.
A meta da Cimed é bater R$ 10 bilhões em faturamento em 2029, saindo de R$ 3,6 bilhões em 2024. A companhia já iniciou a expansão da capacidade fabril, quer expandir categorias e vai manter aquisições no radar. A farmacêutica entrou recentemente no segmento de baby care e oral care –produtos de higiene para bebês e saúde bucal.
Marques, a propósito, está aliviado de ter um sócio que pode ajudar a encontrar e analisar oportunidades de M&A, algo que vinha lhe tomando tempo no último ano. A primeira metade de 2024 foi uma negociação frustrada para adquirir a Jequiti, marca de cosméticos do grupo Silvio Santos, e a segunda metade do ano na dinâmica com investidores para a empresa – além do GIC, a Cimed foi sondada por ao menos outros cinco investidores.
O GIC vai participar do conselho como observador. O fundo aprovou a governança da companhia, que garante agilidade à empresa, e também gosta do perfil midiático dos acionistas, engajados nas redes sociais. “Esse era um ponto, né? A gente se expõe bastante, então como um investidor lidaria com isso. E o GIC entende o valor do negócio que tem a cara do dono, eles dão muito valor ao empreendedor”, diz o CEO.
Neste passo relevante para a companhia, no entanto, foi tudo muito discreto. A assinatura do contrato foi feita na quinta-feira à noite, sem brinde de champanhe. “A gente só tinha água aqui no escritório, estávamos todos cansados às 10 da noite e fomos para casa descansar”, conta ele, que começa a agenda às cinco da madrugada. Nesta segunda-feira, a companhia contou a novidade aos funcionários e Marques já tinha a logomarca do GIC ao lado da Cimed em sua polo amarela.
Fonte: Pipeline
Por: Maria Luíza Filgueiras