As empresas da América Latina estão perdendo entre US$ 100 bilhões e US$ 130 bilhões a cada ano por causa de fraudes. O dado foi obtido por um levantamento da McKinsey na região, que entrevistou 679 executivos em atividade, e considerou golpes digitais, como malwares e phishing, mas também problemas na operação física, como com logística ou engenharia social.
É a primeira vez que a consultoria faz esse estudo a partir de uma perspectiva regional. E uma das principais conclusões é que quase a metade das perdas poderia ser evitada com uma melhor governança. “Boa parte das empresas nem sabe se está ou não sendo fraudada. Há perdas que são contabilizadas como operacionais que, na verdade, são fraudes”, diz Patrick Rinski, sócio da McKinsey.
No Brasil, o problema parece estar crescendo em ritmo mais acelerado que em seus vizinhos. Dos entrevistados brasileiros, 60% afirmaram ter percebido um aumento nos incidentes de fraude nos últimos dois anos, a maior proporção entre os países analisados na região. Também entre as nacionais, 32% registraram perdas superiores a 10% do Ebitda.
Enquanto malwares e phishing — emails com links falsos para coletar dados sensíveis — são as estratégias mais comuns para aplicar golpes digitais, a fraude logística é o grande destaque na operação física. Seja com a falsa devolução de itens para marketplaces ou mesmo o contrabando de produtos que nunca chegam ao consumidor final, o prejuízo no transporte tem afetado gravemente as companhias.
Todos os setores analisados perceberam um aumento dos incidentes nos últimos dois anos, mas o agro foi o que anotou a alta mais expressiva. Mais de 50% das empresas de agricultura perceberam crescimento das fraudes no período e 18% registraram perdas superiores a US$ 1 milhão nos últimos 12 meses.
A equipe da McKinsey atribui o problema no segmento a mais de um fator, entre eles o recente processo de digitalização pelo qual têm passado as companhias que trabalham com grãos e pecuária — no maquinário do campo, mas também nos processos internos. Outra questão é que o problema não é considerado uma prioridade para os C-Levels: apenas 19% dos executivos do agro consideram essa uma questão urgente, contra 64% no setor de tecnologia ou 58% no mercado financeiro.
Um dos alertas que a consultoria faz, no material, é o de que pouco adianta contratar uma ou outra ferramenta de proteção digital isolada — apesar de recomendar a adoção de inteligência artificial na prevenção. No estudo, 61% das empresas latino-americanas afirmaram ter alto padrão protetivo contra fraudes, mas 62% dessas mesmas empresas admitiram que poderiam ter evitado até 29% dos golpes que sofreram recentemente.
“Um dos grandes problemas que eu vejo nas companhias brasileiras e da América Latina é a ideia de que comprar uma solução tecnológica de ponta vai resolver tudo. No fim, as empresas acabam usando um mínimo do que essa ferramenta oferece”, diz Rinski. Para o executivo da consultoria, a única forma de avançar em relação ao problema é ter uma governança com processos bem estabelecidos para lidar com fraudes e uma área interna dedicada a isso.
Entre os casos mais emblemáticos no Brasil, a Americanas talvez ilustre o que um problema de governança é capaz de causar. A empresa do trio de sócios da 3G Capital já havia perdido quase R$ 1 bilhão com um único ataque hacker em 2022 quando veio à tona, no início de 2023, a fraude contábil que revelou um rombo de mais de R$ 20 bilhões. Também a Renner foi vítima de um ataque hacker ao seu ecommerce em 2021.
A McKinsey apontou o varejo como um setor que deveria dedicar mais atenção ao combate às fraudes, inclusive porque tem crescido o número de varejistas que têm criado as próprias fintechs. Segundo a consultoria, 40% das varejistas da América Latina não incluem os consumidores em suas estratégias contra fraudes, embora eles estejam cada vez mais preocupados com proteção de dados.
Fonte: Pipeline
Por: Manuela Tecchio