A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) vai mudar as certificações para os profissionais que atuam com a distribuição de investimentos. A CPA-10, a CPA-20 e a CEA deixarão de existir e novas certificações serão lançadas no lugar. As provas passarão a ser aplicadas em janeiro de 2026.
As certificações serão concedidas conforme as atividades de cada um, como acontece nos Estados Unidos e na Europa, e não com base em cargos, instituições ou segmentos de mercado atendidos (varejo e alta renda), como acontece agora no Brasil. Os nomes das certificações serão anunciados em breve pela entidade, mas as atividades de cada uma das certificações já foram estabelecidas.
Uma das certificações será para prestar informações básicas sobre investimentos, produtos e serviços financeiros nas instituições, na prospecção ou no suporte aos clientes. A segunda certificação será para gerenciar os investimentos dos clientes. Esse profissional faz a análise do perfil do investidor, dá informações sobre os investimentos e os seus riscos e, se necessário, pede ajuda para um especialista em investimentos antes de mudar as carteiras.
Já a terceira certificação será para indicar investimentos, com expertise para criar e alterar carteiras. Esse profissional pode ser especialista em classes e ativos específicos, oferecendo suporte tanto para o cliente final quanto para outras áreas da instituição.
A Anbima divulgará o plano de transição das atuais certificações para as novas no quarto trimestre de 2024. A associação afirma que nenhum profissional perderá a sua certificação ou terá que realizar um novo exame. Para migrar de uma certificação antiga para uma certificação nova, os profissionais farão cursos de atualização, sem custos extras.
Mercado diferente, certificações diferentes
A CPA-10, a CPA-20 e a CEA foram criadas há mais de 20 anos. A CPA-10 é destinada aos profissionais que atuam na distribuição de investimento para o varejo em agências bancárias ou plataformas de investimento. É para profissionais em início de carreira e estudantes.
A CPA-20 é direcionada aos profissionais que atuam na distribuição de investimento para os segmentos varejo alta renda, “private”, e investidores institucionais. É para profissionais em transição de carreira para o mercado financeiro ou que já atuam na área, mas desejam atender públicos além do varejo.
Já a CEA é destinada aos profissionais que assessoram gerentes de investimentos e podem realizar recomendações. É para profissionais já experientes, que buscam se especializar em investimentos e realizar recomendações.
A busca por essas certificações está crescendo, especialmente pela CPA-20 e pela CEA. A acelerada evolução do mercado passou a exigir competências e funções novas das pessoas. As plataformas de investimentos democratizaram as aplicações financeiras, as instituições financeiras passaram a vender produtos de outras empresas e as cooperativas de crédito e bancos digitais entraram nesse mercado.
A Anbima deseja que as mudanças qualifiquem os profissionais. A base das mudanças foi uma pesquisa realizada em parceria com a Deloitte, elaborada a partir de levantamentos com o mercado sobre a atuação e o perfil dos profissionais de distribuição e as competências comportamentais e técnicas que precisam para exercer suas atividades. O estudo mostrou que os profissionais com cargos distintos na distribuição de investimentos estão exercendo funções parecidas, na prática.
“As certificações foram pensadas para a estrutura dos bancos, mas a distribuição de investimentos está muito mais heterogênea e menos concentrada”, afirma Marcelo Billi, superintendente de sustentabilidade, inovação e educação da Anbima. “Chegou de dentro do mercado uma demanda de certificações mais conectadas com essa nova realidade”, diz.
Ainda, o levantamento mostrou que o mercado financeiro exige um conhecimento alto dos profissionais e que é preciso ampliar o conteúdo dos exames.
Mudanças nas provas também
Os exames cobrarão não apenas conhecimentos técnicos, mas também a aplicação desses conhecimentos na prática e competências comportamentais (as chamadas “soft skills”, em inglês).
A Anbima planeja realizar ciclos de conversas com as escolas preparatórias, o mercado, os profissionais e os reguladores nos próximos dois anos, para coletar sugestões e tirar dúvidas sobre as alterações. Ainda, a associação deve fazer pilotos para tester o novo modelo de avaliação dos candidatos.
Além disso, o aplicativo Anbima Edu deve disponibilizar microcertificações para contribuir com a especialização dos profissionais sobre determinados assuntos, incluindo os conteúdos cobrados nas certificações e simulados das provas. Por meio dessas microcertificações, os profissionais passarão a manter as suas certificações atualizadas. O acelerado desenvolvimento do mercado exige que os conteúdos sejam atualizados em um espaço menor de tempo, e não a cada três anos como é agora.
As instituições financeiras conseguirão acessar uma base de dados que informará quais e quantos profissionais têm as microcertificações. Elas também conseguirão buscar profissionais negros ou mulheres com determinadas certificações, por exemplo.
Fonte: Valor Investe
Por: Júlia Lewgoy, Valor Investe