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Banco usa de satélite a IA para mitigar risco

Novas tecnologias facilitam fiscalização e controle e abrem oportunidades de negócios

Carlos Aguiar Neto, do Santander — Foto: Divulgação

“Posso fazer avaliação remota da terra e determinar o valor da garantia. Faço fiscalização do Banco Central para saber se o crédito rural foi aplicado naquela fazenda, na data certa, para a cultura contratada, nos hectares determinados”, diz o diretor de agronegócio do Santander, Carlos Aguiar Neto, ao expor o arsenal tecnológico que as instituições financeiras vêm aplicando na concessão e acompanhamento do crédito rural, que vai da certificação da propriedade a dados sobre umidade do solo, desmatamento e até se há trabalhadores em regime análogo à escravidão.

 Satélites, robôs, leitores ópticos, inteligência artificial (IA), “machine learning” (ML, aprendizado de máquina), entre outros instrumentos e soluções, alimentam os bancos com toneladas de dados críticos para a gestão de riscos e compliance dos financiamentos e seguros agrícolas. “O ser humano é importante para verificar se um alerta é verdadeiro, falso ou um ruído”, diz Aguiar, acrescentando que a tecnologia permite saber se e quando um produtor teve problemas com a cultura, se não conseguiu plantar, se teve seca ou excesso de chuva, qual problema afetou a safra. “Ele me conta uma história eu verifico isso por satélite – como se fosse um ‘Big Brother’”, ilustra o diretor do Santander.

A história começa na escritura da propriedade. “Dá um trabalho enorme ler uma escritura, com uma série de coordenadas geodésicas. Para isso estamos empregando a tecnologia OCR [Reconhecimento Óptico de Caracteres], que lê os documentos e também busca e preenche os dados do contrato de crédito, busca o município, o proprietário, os dados do CCIR [Certificado de Cadastro de Imóvel Rural]”, completa Aguiar.

Depois vem a conformidade segundo as regras do Banco Central, salienta o diretor de agronegócio do Bradesco, Roberto França. “O banco é, inclusive, obrigado a confirmar que o produtor rural tem sua reserva legal constituída ou se tem algum plano de recuperação ambiental. O BC impõe cada vez mais controles sobre o crédito rural”, frisa ele, que que também é diretor setorial de agronegócio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). 

Amaury Oliva, diretor, e Beatriz Secaf, gerente de sustentabilidade da Febraban, confirmam que o BC vem ampliando seu escopo, porém ressalvando que o código de autorregulação dos bancos já foi mais abrangente do que a autoridade monetária. Segundo eles, as diretrizes próprias para restrição de crédito abrangiam todos os biomas do Brasil, enquanto o BC se limitava ao da Amazônia. além disso, a Febraban, no ano passado, publicou um normativo referente ao gerenciamento do risco de desmatamento na cadeia de carne, com o propósito de evitar o uso de gado proveniente de áreas desmatadas por parte dos frigoríficos.

 Assim, para a concessão de crédito, os bancos precisam conferir listas de trabalho escravo ou infantil, se a terra confronta reservas indígenas ou federais, parques ou terras quilombolas. Se houver restrição ao uso da propriedade ao longo do prazo do crédito, o banco pode desclassificar a operação, conforme recomenda o BC, e cobrar o empréstimo. “Já que se trata, muitas vezes, de subsídios oficiais, os bancos cumprem uma atividade de fiscalização”, observa França.

Ele explica que os reguladores têm responsabilidade perante órgãos de controle sobre a destinação de recursos públicos para evitar o financiamento de atividade ilícita. “Isso impõe uma pressão de custos e de burocracia e o caminho disso aponta, invariavelmente, para inovação. Nestes casos, mais especificamente para a digitalização”, sustenta o diretor do Bradesco. 

Por outro lado, o aparato regulatório, além de mitigar riscos da operação – por exemplo, alertando para eventos climáticos prejudiciais, como inundações e geadas – abre oportunidades de negócio. O Bradesco lançou, há um ano, um market place de produtos de crédito digitais que leva crédito onde não o banco não tem agência, acrescentando mais de R$ 500 milhões aos R$ 110 bilhões de sua carteira de agronegócio. Com mais de 50 mil clientes ativos, o banco é o maior financiador privado do agronegócio, só atrás do Banco do Brasil.

Fonte: Valor
Por: William Salasar

 

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