Fundado em 2009, o BR Partners é hoje uma referência no mercado quando o assunto é fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês). Mas, além de oferecer assessoria financeira para este tipo de operação, o banco entrou recentemente no setor de gestão de fortunas, que é dominado no país por algumas poucas instituições.
Em conversa com a Capital Aberto, Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners, disse estar extremamente satisfeito com a nova área, criada no segundo semestre do ano passado. “Num período relativamente curto, a gente conseguiu colocar de pé mais esse pilar importante para o crescimento do banco.”
Na visão do executivo, a política de crescimento do BR Partners é galgada numa base modular, sem entrar em muitas frentes ao mesmo tempo, uma vez que as áreas precisam estar rodando e gerando resultado para novos investimentos. “Se você olhar, ao longo da nossa história, a gente tem crescido por volta de 25% ao ano, mantendo um retorno sobre o patrimônio acima de 20%. Então, é uma combinação bastante atrativa.”
O banco, que tem a intenção de crescer em outras vertentes, não apenas na gestão de fortunas, fará tudo com base na rentabilidade, sem fazer loucura. Segundo Lacerda, o BR Partners está com o prato cheio para poder atacar os próximos trimestres e os próximos anos. Além dos objetivos do banco, o executivo também discorreu sobre a economia doméstica, os juros nos Estados Unidos, os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) e, claro, o mercado de M&A, no qual o BR Partners é especialista.
Quando a gente esperava, digamos assim, na virada do ano, ter um ambiente muito mais favorável para o mercado de capitais, com a volta dos IPOs e um fluxo grande para a Bolsa, não vimos. Não vimos principalmente em função dos juros mais altos nos EUA, mas também por um problema de política fiscal no Brasil que está criando barreiras para uma política monetária mais expansionista. Por isso, estamos num cenário um pouco mais negativo. O juro alto por aqui dificulta muito o investimento na renda variável e na alocação de ativos de maior risco. Eu diria que não é um cenário ruim porque temos visto um crescimento econômico positivo, como o nível de investimento estrangeiro direto que continua alto. Vamos ter números de balança comercial favoráveis, mas, como um todo, não é um cenário brilhante para uma retomada do mercado de capitais nesse momento.
Eu acho que a gente está muito próximo de uma pausa (corte de juros), podemos ter aí mais 0,25 ponto percentual (p.p) e depois pausar. Vai muito do que o Banco Central vai querer sinalizar em termos de política monetária. Mas eu acho que estamos perto do fim do ciclo de corte. Obviamente, se tiver uma reprecificação dos juros nos EUA isso pode mudar. Mas, quando você coloca um juro de 5,5% nos EUA, vai ser muito difícil o Brasil, com todas as incertezas fiscais que têm, conseguir praticar um juro real mais baixo do que esse.
O cenário muda a cada nova safra de dados, mas temos visto um pleno emprego e um crescimento econômico forte por lá. Há uma inflação arrefecendo, mas não da forma como o Fed gostaria para poder iniciar o ciclo de corte. Então, tudo leva a crer que nós teremos um cenário de juros altos nos EUA por um período mais prolongado. Esse cenário levou a uma reprecificação no Brasil. É um cenário de Bolsa ainda difícil por aqui. No caso do BR Partners, isso também nos afeta porque a gente precisa ter um mercado, principalmente de ações, um pouco mais ativo para que, realmente, a gente veja o nosso negócio a pleno vapor. Mas as coisas não estão ruins. Eu diria que, quando a gente olha o cenário micro, saindo um pouco do macro, tem um setor privado muito ativo. A saúde das empresas está boa. O nosso pipeline de negócios, como a gente chama, que são as ações em curso que a gente tem, continuam muito ativas, com bastante oportunidade para os próximos trimestres.
Realmente, quando a gente olha os múltiplos das empresas na Bolsa estão baixíssimos. Está tudo a preço de banana, tudo uma barganha. Tem companhias que tiveram queda de mais de 90% no preço das suas ações desde o pico de 2021. Eu acredito que são companhias boas e que têm um grande potencial. Mas, por outro lado, temos uma saída de fluxo estrangeiro, mas não de capital brasileiro. Acho que o brasileiro continua acreditando no Brasil. Mas temos um movimento de liquidez das próprias gestoras que faz com que seja muito difícil alocar o capital. Então, para fazer a compra de uma ação, o gestor vai precisar se desfazer de um outro ativo que também está com um múltiplo muito baixo. Portanto, isso acaba inibindo essa recuperação mais rápida. Mas são coisas de mercado, são coisas normais dentro de uma dinâmica técnica e de fundamento que podem mudar muito rapidamente.
Eu acho que vai ser um ano muito bom. A gente teve em 2021 um ano recorde, depois em 2022 houve uma redução substancial, mas em 2023 teve uma pequena melhora. Tivemos empresas querendo expandir, vamos dizer assim, ou novos investimentos. Eu vejo uma dinâmica muito positiva no mercado de M&A, mas não acho que vai ser recorde quando comparado a 2021. Acho que aquele ano (2021) foi o melhor que eu vi nos meus 35 anos de mercado. A dinâmica de M&A continua positiva e grande parte em função da diversidade de empresas que a gente tem no Brasil.
Esses setores são bastante ativos. A gente viu aqui no próprio BR Partners, que anunciamos recentemente transações com players de educação e de saúde, como a Cruzeiro do Sul e a própria Amil. Eu acredito que esses setores terão menos nomes, mas com mais força. No ano passado, tivemos financiamento à educação que também acabou ajudando muito na expansão.
Em saúde, vemos uma necessidade muito grande por maior eficiência. Eu acredito que vamos ter bastante consolidação no setor de energia, no setor financeiro, mas principalmente em tecnologia. Acho que vamos ter movimentos importantes no varejo. Ou seja, estamos vendo em 2024 uma movimentação generalizada por meio de diferentes setores, não é uma coisa concentrada. É aquilo que realmente a gente gosta de ver no nosso segmento e que a gente entende que vai fomentar um bom ciclo de crescimento.
Esse mercado está se adaptando a um novo juro real brasileiro. Com a perspectiva de uma redução da Selic inferior ao que a gente imaginava na virada do ano, o mercado de ações não voltou. Vimos alguns follow-ons, ofertas ancoradas por acionistas de referência. Mas não vimos nenhuma grande operação em renda variável ou IPOs. Todas as ofertas tiveram algum componente de ancoragem ou de participação dos atuais acionistas. Tivemos outras questões também, como mudanças regulatórias em produtos incentivados, que acabaram fazendo com que houvesse uma migração de recursos. Mas, de certa maneira, esse mercado continua muito ativo.
Estamos extremamente satisfeitos. Como eu sempre coloco para os investidores, a gente aqui atua num ecossistema, para usar uma palavra que o investidor gosta hoje em dia, num ecossistema de grandes empresas, empreendedores, empresários, executivos e investidores. Estamos com um portfólio muito mais completo. A rolagem do negócio está indo muito bem, com grandes sinergias com as pessoas que trouxemos para cá. Estamos tendo um resultado mais rápido e melhor do que a gente esperava. Então, eu diria que a gente está bastante animado, muito focado. Num período relativamente curto, a gente conseguiu colocar de pé mais esse pilar importante para o crescimento do BR Partners.
Temos uma política de fazer com que o nosso crescimento seja modular. A gente não gosta de entrar em muitas frentes ao mesmo tempo porque as áreas precisam estar rodando e gerando resultado para novos investimentos. Se você olhar, ao longo da nossa história, a gente tem crescido por volta de 25% ao ano, mantendo um retorno sobre o patrimônio acima de 20%. Então, é uma combinação bastante atrativa. Agora, obviamente, para crescer com rentabilidade não pode fazer loucura. A gente está, como eu diria, com o prato cheio para poder atacar os próximos trimestres e os próximos anos, mas a gente tem, sim, a pretensão de crescer em outras áreas. Temos, por exemplo, a pretensão de crescer em renda variável, ter uma plataforma onde a gente possa participar desse mercado também. Isso é uma coisa que a gente está sempre olhando. A gente está olhando também potenciais aquisições na própria área de gestão de fortunas. Em gestão de fortunas e na asset, podemos ter alguma aquisição, mas vai depender muito da oportunidade, do momento de mercado e do quanto que a gente está, digamos assim, evoluindo com a nossa estratégia de crescimento orgânico.
Hoje, os investidores originais detêm menos 5% do capital da companhia. Já nós, os sócios que trabalhamos na companhia, detemos 55%. Não temos ninguém com participação que não trabalhe na empresa. Não tem nenhum sócio, digamos assim, puramente investidor. São todos executivos e sócios que trabalham no dia a dia. Mas a gente sempre está olhando isso (aumentar participação). Desde que a gente criou o BR Partners, eu só comprei ação, não vendi nenhuma. Se surgir uma oportunidade, vamos avaliar. Para ser sincero, a gente aqui no partnership focamos na execução da nossa estratégia, por isso, deixamos que essa dinâmica de mercado tome uma vida própria. A gente procura não interferir muito nisso.
Eu estou vendo com bastante entusiasmo. Acho que nós estamos, como eu falei, não é um mercado simples, é um mercado delicado, com bastante incerteza, muita volatilidade, mas está longe de ser um mercado ruim. Nós estamos em um mercado com um nível de atividade ainda muito bom. Então, continuamos bastante otimistas. Eu acho que vamos entregar um ano bastante satisfatório, acima de 2023, com resultado realmente importante para a firma.
Fonte: Capital Aberto
Por: Leandro Tavares