Em agosto de 2024, o IBGE e outros institutos de pesquisa divulgaram os indicadores econômicos em relação ao primeiro trimestre do ano. O PIB registrou um crescimento modesto de 1,4% em comparação ao mesmo período do ano anterior. A taxa básica de juros (Selic) foi mantida em 10,50% ao ano, o que continua a encarecer o crédito e a reduzir a demanda por financiamento. O consumo das famílias e as vendas no comércio permanecem sob pressão devido ao alto custo do crédito e à lenta recuperação econômica. Segundo o IBGE, a Agropecuária recuou 2,9% em relação a igual período de 2023, a Indústria cresceu 3,9%, com destaque para Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos que subiu 8,5%, resultado favorecido pelo aumento de consumo de energia em todas as classes, principalmente residencial, e pela continuidade da bandeira tarifária verde e o Setor de Serviço avançou 3,5% ante o mesmo período do ano anterior. A taxa de desemprego, tem mostrado uma contínua queda em comparação a série histórica dos últimos 10 anos, e de acordo com o IBGE em 6,9%, refletindo um aumento no nível de emprego no Brasil. Além disso, o número de empresas que entraram com pedido de recuperação judicial em 2024 atingiu 1.014, um aumento de 71% em relação ao mesmo período do ano anterior. Este é o maior número registrado desde o início da série histórica, em 2005.
Esses dados revelam que, embora o Brasil esteja mostrando sinais de recuperação, ainda enfrenta desafios significativos. A economia, embora mais estável do que em anos anteriores, continua a lutar contra uma série de obstáculos que impactam diretamente as empresas e as famílias. Nesse contexto, a pergunta que muitos fazem é: como as empresas podem se preparar para mitigar os riscos e evitar que a crise se agrave? Ou como aproveitar as oportunidades que surgem no mercado?
Os indicadores econômicos são fundamentais para entender o contexto em que as empresas operam e que estão inseridas, mas refletem situações passadas. Portanto, é crucial que gestores e empresários utilizem esses dados para planejar e implementar estratégias que assegurem a sobrevivência e o crescimento de seus negócios, sem contar com os impactos externos sobre determinados setores da economia. Com a projeção de uma inflação de 4,5% e a expectativa de que a Selic permaneça elevada para o curto prazo, é essencial que as empresas adotem medidas proativas para gerenciar seus custos e proteger sua rentabilidade.
O governo e outras entidades já começaram a implementar medidas para apoiar a recuperação das empresas. Um exemplo é a linha de crédito anunciada pelo BNDES, que continua a oferecer apoio a empresas em dificuldades financeiras, permitindo que companhias saudáveis adquiram ativos de outras em recuperação judicial. E também linhas de subvenção econômica, como o programa Mais Inovação lançado pela Finep em 2024 no monte de R$2,18 bilhões de reais, contendo 11 editais com recursos não-reembolsáveis, sendo eles:
Essas iniciativas são essenciais para sustentar a geração de empregos e a criação de valor econômico no país.
Diante dos cenários econômicos atuais, é imperativo que as empresas, independentemente de seu porte ou setor, adotem estratégias específicas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades, compreendendo de forma prática as especificidades de cada empresa, como: mercado de atuação, tamanho, nível de maturidade, recursos disponíveis, níveis de governança, grau de inovação etc.
Exemplo: Magazine Luiza é um exemplo de uma empresa que tem conseguido manter um cenário de lucro e caixa positivos. Mesmo durante os períodos de crise econômica, a empresa adotou estratégias de digitalização e inovação no varejo que lhe permitiram expandir sua participação de mercado e manter um forte desempenho financeiro. De acordo com seu último Relatório de Resultado do 2T2024, as Receitas de vendas atingiram R$15,4 bilhões, Margem Ebitda Ajustada ficou em 7,9% (cerca de R$711 milhões) e a Geração de Caixa Operacional ficou em R$2,2 bilhões. A companhia investiu pesadamente em tecnologia e e-commerce, o que não apenas garantiu a manutenção de suas receitas, mas também impulsionou seu crescimento em meio a um mercado desafiador.
Mesmo em um cenário de crescimento e superávit de caixa, os gestores não devem se descuidar. A adoção de uma gestão financeira prudente, focada na geração de caixa e na eficiência operacional, é crucial. É importante manter um plano de redução de custos e ajustes contínuos para garantir que a empresa permaneça competitiva, mesmo em tempos de bonança.
Exemplo: Oi S.A., uma das maiores operadoras de telecomunicações do Brasil, enfrentou um severo declínio no lucro e caixa, levando a empresa a buscar recuperação judicial em 2016. A crise financeira foi resultado de uma combinação de alto endividamento, má gestão e mudanças no mercado de telecomunicações. Desde então, a empresa tem trabalhado para reestruturar suas finanças, vender ativos e renegociar suas dívidas, visando recuperar a estabilidade financeira. De acordo com seu último Relatório de Resultado do 2T2024, as Receitas consolidadas de vendas atingiram R$3,1bilhões, Margem Ebitda Ajustada ficou em -4,2% e o Caixa Operacional disponível ficou em R$1,917 bilhões.
Se a empresa começa a enfrentar declínios em lucro e caixa, é essencial que a gestão tome medidas rápidas e decisivas para reverter essa tendência. A renegociação de dívidas, a venda de ativos não essenciais e a reestruturação de operações são algumas das ações que podem ajudar a empresa a recuperar sua estabilidade financeira.
Exemplo: Avianca Brasil é um exemplo de uma empresa que enfrentou uma crise financeira severa que a levou à falência em 2019. A companhia aérea sofreu com uma combinação de má gestão, aumento nos custos operacionais e uma forte concorrência no setor. Apesar dos esforços para reestruturar a empresa, incluindo a tentativa de venda de seus ativos, a Avianca Brasil não conseguiu se recuperar, levando à sua eventual falência.
Quando a crise financeira já está instalada, um plano de recuperação rigoroso deve ser implementado. Esse plano deve incluir a estabilização imediata das finanças, a reestruturação de dívidas e a reorientação estratégica da empresa. Além disso, é crucial contar com apoio jurídico para lidar com as questões legais e trabalhistas que inevitavelmente surgem nesse contexto.
Os indicadores econômicos fornecem uma visão retrospectiva dos desafios enfrentados pela economia e pelas empresas, mas cabe aos gestores transformarem essa informação em ação. Adotar estratégias proativas, ajustar a gestão financeira e buscar apoio quando necessário são passos essenciais para garantir que sua empresa não apenas sobreviva, mas prospere em tempos de incerteza.
A recuperação é possível, mas requer planejamento, liderança e, sobretudo, agilidade para adaptar-se às mudanças. Não espere que a crise se agrave; comece a agir agora para garantir o sucesso de sua empresa no futuro.
Manoel Quintino Junior – especialista em gestão financeira, M&A, turnaround, captação de recursos, private equity, F&A. Formado em Administração de Empresas, especializado em Gestão Empresarial e mestre em Finanças, Estratégia e Mercado. Conselheiro de empresas familiares. Carreira profissional de mais de 20 anos de experiência, desenvolvida em empresas de médio e grande porte nos segmentos de construção civil, indústria da confecção, tecnologia, telecomunicações, internet e comércio varejista. Ocupou no mercado as posições executivas de Superintendente AD, CFO e Diretor Executivo. Sócio da Four+ Investment Banking, Isanex – Platform of M&A to Startups e da Four+ Academy.
Palavras-chave: Desempenho, Indicadores, Lucro, Crise, Caixa, Finanças, Cenário, Recuperação
Referências Bibliográficas
Fonte: Four+
Por: Manoel Quintino Junior